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domingo, 17 de agosto de 2014

PROSLOGION seu Alloquium de Dei existentia

TEOLOGIA MEDIEVAL:

 PROSLOGION seu Alloquium de Dei existentia


Flaviano Marques da Costa


1- INTRODUÇÃO
Santo Anselmo é considerando o fundador do escolasticismo e criador do argumento ontológico a favor da existência de Deus. Na sua obra PROSLOGION seu Alloquium de Dei existentia", ele disserta de forma inteligente e irrefutável a realidade e supremacia do ser real de Deus. Isto é, tudo que se existe, existe Nele. O ontem, o hoje, o amanhã existem na perspectiva de um tempo, mas Deus não está em lugar ou tempo e sim tudo Nele. O Pai, o Filho e o Espírito Santo é o único bem necessário, completo, total e único.
No século XXI, somos confrontados a todo instante por um pensamento antropológico em que o homem se encontra no centro da existência e da decisão. Isto fica claro na forma como o homem tem se relacionado consigo mesmo, com o outro, com a natureza, e com o próprio Deus. Nos dias de hoje fica claro que o homem tem a tendência de tudo que se considera alheio a si, lhe é considerado menor e a seu serviço. O que torna mais interessante e oportuno a leitura do livro em questão devido o apontamento não só da existência de Deus como também da sua supremacia.
Sendo assim, com base em quais argumentos Santo Anselmo sustenta a existência e soberania de Deus? Qual o maior desafio a obra nos faz refletir em relação a igreja cristã nos dias de hoje?

2- DESENVOLVIMENTO
2.1 - Existência e Soberania
2.1.1 -  O Pintor

Na sua obra Santo Anselmo relata no capítulo II sobre a verdadeira existência de Deus, fazendo um paralelo com o trabalho de um pintor. Quando um pintor pensa antes o que vai fazer tem na inteligência aquilo que não fez, mas de modo nenhum compreende que exista o que ainda não fez. pelo contrario, quando já o pintou, tem na inteligência o que já fez e compreende que isso existe, ou seja, até mesmo o insensato está convicto de que alguma coisa maior do que a qual nada pode ser pensado, existe pelo menos no intelecto. Porque ele compreende-o quando o ouve e tudo que é compreendido existe no intelecto.

Ele ainda acrescenta que sem dúvida aquilo maior do que o qual nada pode ser pensado, não pode existir unicamente no intelecto. Afinal se existe pelo menos no intelecto pode pensar-se que exista também na realidade, o que é ser maior. Por conseguinte, Deus não só é aquilo do que o qual nada pode ser pensado, mas é algo maior do que aquilo que pode ser pensado.


2.1.2 - Deus é o que é melhor ser que não-ser

Deus é justo, verídico, feliz e tudo que aquilo que é melhor ser do que não-ser. Tal reflexão advém do pensamento de que Deus é maior do que tudo que possa ser pensado. Ele é a suma realidade sobre todas as coisas, e o que existe, existe a partir Dele. Deste modo aquilo que não é, é algo menor. Em Deus existe tudo que é bom, logo o não justo, o não verídico, e o não feliz é menor.




2.1.3 - Deus é sensível ainda que não seja corpo

Sabemos que as coisas corporais são sensível, uma vez que os sentidos se reportam ao corpo. contudo, Santo Anselmo define sentir ao termo conhecer (estar em ordem). Quem sente, com efeito, conhece segundo a propriedade dos sentidos, assim sendo Deus é senciente, pois conhece todas as coisas.


2.1.4 - Deus é onipotente

A onipotência de Deus está presente no seu poder acima daquilo do que é corrompido, mentiroso e falso. Poderíamos pensar que a não ação de Deus sobre estas coisas se define como impotência, mas é exatamente o contrário, porque até a opção de Deus não fazer, nos mostra o seu poder de optar pelo não. Por Ele ter todo poder, cabe a Ele, como supremo, definir o que é e o que não é bom para si.


2.1.5 - Deus é misericordioso e impassível

A definição de tais palavras segundo nosso entendimento se distancia em alguns aspectos do entendimento divino, uma vez que, nossa justiça e entendimento são limitados. Contudo em Deus se encontra a misericórdia para salvar os infelizes e perdoar seus pecados e de mesmo modo impassividade para com aqueles segundo o seu sentir.


2.1.6 - Deus justamente pune e perdoa os maus

Como pode ser justo que Deus puna os maus e ao mesmo tempo os perdoa?
A soberania de Deus lhe dá o direito de punir e também perdoar, porque quando pune os maus, é justo porque está de acordo com os seus méritos. E que os perdoa, é justo porque é digno não dos seus méritos mas da sua bondade. Quando perdoa-os é justo segundo a Ele e não segundo a nós.
Assim é justo não porque nos retribua algo devido, mas porque faz o que é digno Dele, sendo Deus sumamente bom.


2.2 - Desafio para a igreja Cristã
O obra de Santo Anselmo nos coloca um desafio a refletir em relação as praticas eclesiásticas na atualidade. Isto, porque nos faz perceber a todo instante o quanto Deus é real e excelso. Como cristãos precisamos compreender o Teocentrismo como única forma de fé e prática.
Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas. (Romanos 11:36)
Vimos que na atualidade o antropocentrismo tem reinado na vida daqueles que dizem proclamar a fé, por meio do egoísmo, da vaidade, da busca pelos seus próprios interesses e de fazer seu nome celebre. Razão disso a teologia da prosperidade tem crescido, nas comunidades locais, levando as pessoas a viverem de forma rasa e vazia no que diz a soberania e supremacia de Cristo.
A falta de conhecimento e entendimento das escrituras sagradas, gera uma ausência de fundamentos para argumentar a respeito da existência de Deus. Muitos jovens questionam a existência de Deus por meio de assuntos como, guerras, fome, doenças, etc. Contudo a obra exposta traz luz para questões como esta, esclarecendo fundamentos sólidos para a defesa da existência do Criador.
Por ainda não conseguir defender a existência de Deus, a igreja não consegue viver de fato a soberania Dele, o que não interfere e limita em nada a sua existência e soberania.
A obra de Santo Anselmo também nos desafia a pensar a fé. Em toda a literatura o autor traz as escrituras para o âmbito da razão utilizando-se de debates filosóficos pensa Deus e nela mesmo encontra respostas. O que contrapõe todo pensamento errôneo e equivocado de que fé e razão não se misturam.
José M. S. Rosa, o tradutor da obra, traz na apresentação do livro uma explicação de que os pensamentos de Anselmo são como um divisor da filosofia entre aqueles que aceitam a validade do argumento lógico a favor da existência de Deus na realidade e não apenas na mente. No PROSLOGION Anselmo supera o conflito fé e razão que filosófica e teologicamente separa muitos pensadores. Defende que todas as formas de fé devem ser ou reconduzidas a razão. A filosofia é apenas uma serva da teologia e como tal deve ser tratada.


3- CONCLUSÃO
Com a leitura do livro PROSLOGION seu Alloquium de Dei existentia, pode-se não só aprender sobre como argumentar a respeito da existência de Deus, bem como em um âmbito mais profundo alcançar corações que não só pensam, mas que também compreendem.
Fica claro a irrefutável conclusão de que alem da existência de Deus tudo parte Dele. Sua soberania e perfeição que para muitos estava ligado tão somente a uma aceitação pela fé, aqui se adiciona a razão e o raciocínio de que Deus que é real.
Tais reflexões nos fazem pensar sobre a necessária e urgente instrução aos cristãos. Uma volta as escrituras e também de outras leituras filosóficas que acrescentam, em questão, o livro de Santo Anselmo, para se gerar a convicção do que cremos, porque cremos e no que cremos.
Como líderes temos a responsabilidade de resgatar a igreja à centralidade da pessoa de Cristo, para que ela intenda que todas as coisas partem Dele, lutando contra o antropocentrismo que leva o homem a todo instante olhar somente para si e  para o mundo, invertendo prioridades e desviando o olhar de Cristo.
4- BIBLIOGRAFIA

ANSELMO, Sto. PROSLOGION seu Aloquium de Dei existentia, Covilhã, 2008.

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