TEOLOGIA MEDIEVAL:
PROSLOGION seu Alloquium de Dei existentia
Flaviano Marques da Costa
1- INTRODUÇÃO
Santo Anselmo é considerando o
fundador do escolasticismo e criador do argumento ontológico a favor da
existência de Deus. Na sua obra “PROSLOGION seu
Alloquium de Dei existentia", ele disserta de forma inteligente e irrefutável a
realidade e supremacia do ser real de Deus. Isto é, tudo que se
existe, existe N’ele. O ontem, o hoje, o amanhã existem na
perspectiva de um tempo, mas Deus não está em lugar ou tempo e sim tudo N’ele. O Pai, o
Filho e o Espírito Santo é o único bem necessário, completo, total e único.
No século XXI, somos confrontados a todo instante por um
pensamento antropológico em que o homem se encontra no centro da existência e da
decisão. Isto fica claro na forma como o homem tem se
relacionado consigo mesmo, com o outro, com a natureza, e com o próprio Deus. Nos
dias de hoje fica claro que o homem tem a tendência de tudo que se
considera alheio a si, lhe é considerado menor e a seu serviço. O que torna mais
interessante e oportuno a leitura do livro em questão devido o
apontamento não só da existência de Deus como também da sua supremacia.
Sendo assim, com base em quais argumentos Santo
Anselmo sustenta a existência e soberania de Deus? Qual o maior desafio a obra nos
faz refletir em relação a igreja cristã nos dias de hoje?
2- DESENVOLVIMENTO
2.1 - Existência e
Soberania
2.1.1 - O Pintor
Na sua obra Santo Anselmo relata no capítulo II sobre a verdadeira existência de Deus, fazendo um paralelo com o trabalho de um pintor. Quando
um pintor pensa antes o que vai fazer tem na inteligência aquilo que não fez, mas de modo nenhum
compreende que exista o que ainda não fez. pelo contrario, quando já o pintou, tem na inteligência o que já fez e compreende que isso existe, ou seja, até mesmo o insensato está convicto de que alguma coisa maior do que a qual nada pode ser
pensado, existe pelo menos no intelecto. Porque ele compreende-o quando o ouve
e tudo que é compreendido existe no
intelecto.
Ele ainda acrescenta que sem dúvida aquilo maior do que o qual nada pode ser pensado, não pode existir unicamente no intelecto. Afinal se
existe pelo menos no intelecto pode pensar-se que exista também na realidade, o que é ser maior. Por conseguinte, Deus não só é aquilo do que o qual nada pode ser pensado, mas é algo maior do que aquilo que pode ser pensado.
2.1.2 - Deus é o que é melhor ser que não-ser
Deus é justo, verídico, feliz e tudo que aquilo que é melhor ser do que não-ser. Tal reflexão advém do pensamento de que Deus é maior do que tudo que possa ser pensado. Ele é a suma realidade sobre todas as coisas, e o que existe, existe a
partir D’ele. Deste modo aquilo que não é, é algo menor. Em Deus existe tudo que é bom, logo o não justo, o não verídico, e o não feliz é menor.
2.1.3 - Deus é sensível ainda que não seja corpo
Sabemos que as coisas corporais são sensível, uma vez que os sentidos
se reportam ao corpo. contudo, Santo Anselmo define sentir ao termo conhecer
(estar em ordem). Quem sente, com efeito, conhece segundo a propriedade dos
sentidos, assim sendo Deus é senciente, pois conhece
todas as coisas.
2.1.4 - Deus é onipotente
A onipotência de Deus está presente no seu poder acima daquilo do que é corrompido, mentiroso e falso. Poderíamos pensar que a não ação de Deus sobre estas
coisas se define como impotência, mas é exatamente o contrário, porque até a opção de Deus não fazer, nos mostra o seu
poder de optar pelo não. Por Ele ter todo poder,
cabe a Ele, como supremo, definir o que é e o que não é bom para si.
2.1.5 - Deus é misericordioso e impassível
A definição de tais palavras segundo
nosso entendimento se distancia em alguns aspectos do entendimento divino, uma
vez que, nossa justiça e entendimento são limitados. Contudo em Deus se encontra a misericórdia para salvar os infelizes e perdoar seus
pecados e de mesmo modo impassividade para com aqueles segundo o seu sentir.
2.1.6 - Deus justamente pune e perdoa os maus
Como pode ser justo que Deus puna os maus e ao mesmo tempo os perdoa?
A soberania de Deus lhe dá o direito de punir e também perdoar, porque quando pune os maus, é justo porque está de acordo com os seus méritos. E que os perdoa, é justo porque é digno não dos seus méritos mas da sua bondade. Quando perdoa-os é justo segundo a Ele e não segundo a nós.
Assim é justo não porque nos retribua algo devido, mas porque faz
o que é digno D’ele, sendo Deus sumamente bom.
2.2 - Desafio para a igreja Cristã
O obra de Santo Anselmo nos coloca um desafio a
refletir em relação as praticas eclesiásticas na atualidade.
Isto, porque nos faz perceber a todo instante o quanto Deus é real e
excelso. Como cristãos precisamos compreender o Teocentrismo como única forma de
fé e prática.
“Pois
dele, por ele e para ele são todas as coisas.” (Romanos
11:36)
Vimos que na atualidade o antropocentrismo tem
reinado na vida daqueles que dizem proclamar a fé, por meio do egoísmo, da
vaidade, da busca pelos seus próprios interesses e de fazer seu nome celebre. Razão disso a
teologia da prosperidade tem crescido, nas comunidades locais, levando as
pessoas a viverem de forma rasa e vazia no que diz a soberania e supremacia de
Cristo.
A falta de conhecimento e entendimento das
escrituras sagradas, gera uma ausência de fundamentos para argumentar a respeito da existência de Deus.
Muitos jovens questionam a existência de Deus por meio de assuntos como, guerras, fome,
doenças, etc. Contudo a obra exposta traz luz para questões como esta,
esclarecendo fundamentos sólidos para a defesa da existência do Criador.
Por ainda não conseguir defender a existência de Deus, a
igreja não consegue viver de fato a soberania D’ele, o que não interfere e
limita em nada a sua existência e soberania.
A obra de Santo Anselmo também nos desafia a
pensar a fé. Em toda a literatura o autor traz as escrituras para o âmbito da razão
utilizando-se de debates filosóficos pensa Deus e nela mesmo encontra respostas. O que
contrapõe todo pensamento errôneo e equivocado de
que fé e razão não se misturam.
José M. S. Rosa, o tradutor da obra, traz na apresentação do livro
uma explicação de que os pensamentos de Anselmo são como um divisor da
filosofia entre aqueles que aceitam a validade do argumento lógico a favor
da existência de Deus na realidade e não apenas na mente.
No PROSLOGION Anselmo supera o conflito fé e razão que filosófica e teologicamente separa muitos pensadores.
Defende que todas as formas de fé devem ser ou reconduzidas a razão. “A filosofia é apenas uma
serva da teologia e como tal deve ser tratada.”
3- CONCLUSÃO
Com a leitura do livro “PROSLOGION seu
Alloquium de Dei existentia”, pode-se não só aprender sobre como argumentar a respeito da existência de Deus,
bem como em um âmbito mais profundo alcançar corações que não só pensam, mas
que também compreendem.
Fica claro a irrefutável conclusão de que alem
da existência de Deus tudo parte D’ele. Sua soberania e
perfeição que para muitos estava ligado tão somente a uma
aceitação pela fé, aqui se adiciona a razão e o raciocínio de que
Deus que é real.
Tais reflexões nos fazem pensar sobre a necessária e urgente
instrução aos cristãos. Uma volta as escrituras e também de outras leituras
filosóficas que acrescentam, em questão, o livro de Santo
Anselmo, para se gerar a convicção do que cremos, porque cremos e no que cremos.
Como líderes temos a responsabilidade de resgatar a
igreja à centralidade da pessoa de Cristo, para que ela intenda
que todas as coisas partem D’ele, lutando contra o antropocentrismo que leva o homem a
todo instante olhar somente para si e
para o mundo, invertendo prioridades e desviando o olhar de Cristo.
4- BIBLIOGRAFIA
ANSELMO, Sto. PROSLOGION seu Aloquium de
Dei existentia, Covilhã, 2008.
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