Antropologia Teológica: Uma reflexão sobre a miserabilidade humana
Sueli Rodrigues
Tráfico de mulheres: um retrato da miserabilidade humana
A realidade do tráfico de mulheres está acontecendo no
mundo inteiro, vidas estão sendo
aliciadas, sequestradas, roubadas, destruídas e mortas bem diante dos olhos da
sociedade. É degradante pensarmos na pessoa como mercadoria. Inverte totalmente
a essência do que é ser humano e esvazia a pessoa da sua dignidade e do seu
direito de ser livre. Em um instante a vítima tem sua vida invadida por uma
realidade cruel que destrói seus sonhos, um dia que não estava marcado em sua
agenda e que se dependesse de sua vontade jamais aconteceria.
Como não ficarmos perplexos diante desta
realidade, onde a vida humana se torna
objeto de um comércio repugnante! O sexo que foi criado por Deus para ser
vivido na segurança de uma aliança de casamento, é apresentado como mercadoria
e o ser humano que foi criado para ser a imagem e semelhança de Deus, se torna
um objeto de consumo e o mais degradante há clientes ansiosos para experimentar
suas delícias mortais.
De onde vem este entendimento, que faz com que pessoas
se sintam no direito de fazer algo tão horrendo com outras pessoas? Que sentimento de posse para o mal traz esta
liberdade de se apropriar da uma vida e transformá-la em um pesadelo? Não se
levando em conta nem por um momento o direito de liberdade do outro e lhe
roubando a dignidade.
Tráfico de mulheres é um retrato da miserabilidade
humana: desnudada, sem reservas e sem pudor, revelando a potência do mal e sua
alta capacidade de subjugar um ser humano a expressar suas mais profundas
misérias da alma.
É o
mal que habita no homem passando por mais um apogeu, um momento de glória, em
mais um espetáculo onde está sendo aplaudido de pé por aqueles que lhe
apreciam.
Jamais entenderíamos tudo isto se não conhecêssemos a
verdade sobre a queda humana. Com o pecado o mal entrou no mundo, estabeleceu
seu trono e encontrou sua residência no coração do homem. Desde então tem
afligido a humanidade, mantendo suas correntes bem firmes para não perder o
controle de quem está dominado por ele.
Para Lutero "O pecado é um hóspede indesejado e,
não obstante habita em nós, em nossa
terra, em nosso território".
O que acontece no exterior aos olhos de todos, retrata
uma realidade interna, que está no coração do homem. Jesus disse: "pois
do interior do coração dos homens vêm os maus pensamentos, as imoralidades sexuais, os roubos, os
homicídios, os adultérios, as cobiças,
as maldades, o engano, a devassidão,
a inveja, a calúnia, a arrogância
e a insensatez". (Mc 7:20-22)
O homem que foi criado por Deus para ser sua Imago
Dei, se torna agente e instrumento de marcas profundas causadas pela dor, medo,
vergonha, desonra, rejeição; pois perdeu a si mesmo e esta desfigurado pelo
pecado. Corrompido, ele corrompe se tornando agente e propagador do mal.
Mas quem é que de fato está cativo, o agente do mal,
sua vítima ou o que se torna cliente deste comércio? Todos estão em cativeiro. A vítima de
tráfico sofre com cadeias exteriores,
mas o agente do mal e seu cliente estão preso em cadeias interiores. Eles tem um
senhor chamado "pecado" que
lhes domina, e possuindo apetite insaciável dificilmente vai libertá-los.
O que escraviza
é também escravo, está aprisionado em cativeiros que estão em abismos
profundos. Ele se tornou instrumento de destruição porque ele mesmo está
destruído dentro de si mesmo, com suas ações só reflete o que vai em seu
coração corrompido pela maldade.
Agostinho ao reconhecer a situação humana declarou:
"Como sou feio, desfigurado e sujo, cheio de manchas e úlceras, eu estava horrorizado, sem saber para onde
fugir de mim mesmo."
Assim ele aponta um caminho: é necessário se
reconhecer que temos um problema e não temos como fugir dele, precisamos
encarar esta dura realidade.
A sociedade não consegue explicar como em nossos dias,
após tanto progresso na educação,
ciência e tecnologia, num mundo tão racional coisas como estas ainda podem nos acontecer.
Não conseguem compreender que a causa de tudo isto tem raízes profundas, que
são invisíveis aos olhos humanos, pois estão escondidas no coração humano.
Todos nós estamos sofrendo as consequências por isto, todos nós somos
responsáveis e precisamos nos posicionar para combater mais esta mazela que
marca a história da humanidade.
Como líderes não podemos nos calar. Definitivamente
não podemos nos trancar dentro de nossas portas e dizermos: "isto não tem
nada a haver conosco".
Precisamos usar nossa influência para despertar a Igreja
para se engajar nesta luta. Denunciar o que está acontecendo e ensinar sobre
medidas preventivas às nossas adolescentes e jovens. Mobilizar campanhas de
divulgação para conscientização destes fatos são necessárias.
Já existe toda uma mobilização dentro da sociedade
para combater o tráfico de mulheres, a Igreja precisa somar forças com os que
já estão lutando contra esta maldade.
Cada geração tem seus desafios e dificuldades a serem
vencidas e nós estamos diante de um fato em que não podemos ficar indiferentes.
A sociedade tem uma pergunta e a Igreja tem uma
resposta para seus questionamentos. Precisamos ensinar que a Bíblia tem a
resposta sobre a origem do mal e suas consequências, sobre a responsabilidade
humana e que para sermos vitoriosos nesta guerra precisamos aceitar a ajuda do
único que venceu o mal, Jesus Cristo.
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