Pesquisar este blog

domingo, 17 de agosto de 2014

JOÃO DUNS ESCOTOS - Tratado de Primeiro Princípio

TEOLOGIA MEDIEVAL 

Tratado de Primeiro Princípio - John Duns Scotus

Breno Soares Gomes de Souza


I - INTRODUÇÃO


A existência de Deus foi um dos assuntos que ocupou os autores medievais e 

também a outros. Santo Anselmo de Cantuária (1033/4-1109) foi um dos primeiros a tratar 

do assunto do ponto de vista mais racional em suas obras Monologium e Proslogium. 

Disse ainda: “daquilo acerca do qual não se pode pensar nada maior”, esse “maior” é 

entendido em sentido qualitativo nos termos da perfeição e dos atributos divinos. Sua 

contribuição gerou interesse em outros pensadores, como veremos a seguir com o 

franciscano João Duns Scotus (1255/6-1308).

O Tratado do Primeiro Princípio (Tractatus de Primo Principio) é uma obra concisa 

de Teologia Natural 1*, possivelmente a primeira obra dos séculos XIII e XIV, dedicada 

exclusivamente ao estudo filosófico, deixando de lado a Teologia, “da existência e das 

perfeições de Deus”. Considerada por muitos como uma das mais bem elaboradas e 

pormenorizadas provas da existência de Deus da Idade Média, foi também uma das 

últimas obras de Scotus.

Há semelhança entre Scotus e Anselmo, no tocante a intenção de provar a 

existência de Deus tendo como caminho a capacidade humana de raciocínio e não 

exclusivamente na fé, encoberta de mistério. Porém o diferencial de Scotus no Tratado 

do Primeiro Princípio está na sua abordagem mediante a Metafísica 2* por Aristóteles e 

uma importante descoberta de Avicena, este afirma que se é possível a existência de um 

ser divino, esse deve necessariamente existir. Scotus bebe também da sistematização 

que Henrique Gand conferiu como as duas grandes tradições das chamadas provas da 

existência de Deus, estas são as da causalidade e eminência.

II - DESENVOLVIMENTO 


– BREVE BIOGRAFIA DO AUTOR

Príncipe da escola franciscana e uma das figuras mais representativas do período 

áureo da Escolástica (Duns, na Escócia, 1265-1266 - Colónia, 8.11.1308).

Entrou muito jovem na Ordem dos Frades Menores (cerca de 1280). Ordenado sacerdote 

a 17.3.1291, continuou os estudos de teologia em Oxford (1291-1293) e Paris (1293-

1296), onde teve como mestre, entre outros, Gonçalvo Hispano. Tendo regressado a 

Inglaterra em 1297, lê as Sentenças em diversos centros (studia) da Ordem: primeiro em 

Cambridge (Lectura Cantabrigiensis conservada no manuscrito 112 da biblioteca comunal 

de Todi), a partir de Julho de 1300 em Oxford (Lectura I Oxon., que constitui a primeira 

redacção do Opus Ox. ou Ordinatio) e, finalmente, em fins de 1302 e princípios de 1303

em Paris (manuscrito 66 do Merton College). Recusando-se a subscrever a petição de 

Filipe, o Belo, contra Bonifácio VIII, é coagido a abandonar Paris e vai continuar a sua 

carreira docente em Oxford. Em breve, sanado o conflito entre o Papa e o rei, regressa 

a Paris onde, mediante proposta do ministro geral, Gonçalvo Hispano, de 18.11.1304, 

obtém o grau de doutor em fins de 1305. De 1305 a 1306 comenta de novo as Sentenças, 

agora como mestre regente, no Studium franciscano em Oxford (1305-1306) e, em 

seguida, em Paris (1306-1307). Em fins de 1307, por motivos a que não deve ser 

estranha a situação provocada pelo processo contra os Templários e a desconfiança a 

que foram votados nos meios parisienses os defensores da Imaculada Conceição, é

enviado para Colónia, onde morre aos 43 anos. O seu corpo repousa na Minoritenkirche 

dos Franciscanos Conventuais, em Colónia. Sobre o seu túmulo lê-se, a partir de 1870: 

Scotia me genuit, Anglia me suscepit, Gallia me docuit, Colonia me tenet. Foi honrado, 

ainda em vida, com o título de Doutor Subtil a que posteriormente se juntou o de Doutor 

Mariano. Com a doutrina divulgou-se a fama de suas virtudes, sendo-lhe prestado culto 

público em diversos lugares (Colónia e Nola). O processo de beatificação e canonização 

foi introduzido em 1905.

– TEMOR, SABEDORIA E CONHECIMENTO


Começarei do que era essencial para Scotus e que deve ser para nós nos dias 

atuais; sua devoção a Deus, citada nas primeiras linhas do primeiro capítulo do Tratado 

do Primeiro Princípio, está que por sua vez deve ser inspiração aos teólogos iminentes 

em nossos dias:

§1. Que o primeiro princípio das coisas me conceda crer, saber e expor 

o que agrada a sua majestade e o que eleva nossas mentes a sua 

contemplação. Senhor nosso Deus, a teu servo Moisés, ao perguntar, 

veríssimo doutor, sobre teu nome para apresentar-te aos filhos de Israel, 

ciente do que a inteligência dos homens pode conceber a teu respeito, 

revelando teu nome bendito respondeste: “Eu sou aquele que sou”. Tu és 

o verdadeiro ser, tu és todo ser. Isso, se me fosse possível, eu quereria 

saber. Ajuda me, Senhor, na investigação de quanto conhecimento sobre 

o verdadeiro ser, que tu és, pode atingir nossa razão natural, começando 

pelo ser que de ti proclamaste.

 Scotus ao começa o tratado com esta oração que nos remete a refletir na postura 

e devoção do mesmo, e crer que é possível buscar o conhecimento também pela razão 

sem perder o temor a Deus, que segundo a Bíblia é o princípio da sabedoria (Pv 9:10). 

Portando esse tratado e a vida do próprio autor, é de estrema importância 

não só aos teólogos e estudantes da teologia, como a igreja de Cristo. Visto que 

a Teologia Natural, muitas vezes é tida como “pecado de racionalidade”, a final os 

cristãos aprenderam a crer pela fé! Ou pelo fato de achar desnecessário o estudo, 

ou por medo de se perder na razão, ou ainda temor em estudar Deus? O Fato é 

que Deus apesar de ser espiritual, não se esconde da razão. 

– PENSAMENTO


Senhor nosso Deus, Tu ensinaste infalivelmente ao doutor, Santo 

Agostinho, quando de Ti, Deus trino, escreveu no I Livro Sobre a Trindade 

(c 1, PL 42, 820): “Não há nenhuma coisa que a si mesma o ser”. Não nos 

ensinaste com igual certeza esta outra se não à aquela.

Scotus tem como ponto de partida o texto de Êxodo 3:143 “Ego sum qui sum”, isto é 

“Eu sou aquele que sou”. Esta passagem faz referência à entidade da Metafísica de Deus, 

motivo pelo qual Scotus entende que se Deus disse ser quem é, considera plenamente 

legítima a investigação sobre Sua existência, abordando pela ótica da Metafísica de 

Aristóteles*. É importante ressaltar que por se tratar de um tratado, cada conclusão deriva 

necessariamente de elementos fornecidos anteriormente.

Apesar de não conter o termo “causalidade” em nenhum momento, entende-se 

que a obra se trata principalmente desta, como um forte argumento apologético nesta 

explicação filosófica da existência de um ser transcendental. A definição simples é “cada 

efeito deve ter uma causa”, desta maneira, não podemos ter um efeito sem uma causa e 

vice versa. 

Para melhor compreensão (na verdade de forma muito simplificada e panorâmica), 

seu pensamento estará pontuado em quatro divisões:

• Ordem da eminência:

Subdivide-se em anterior (eminente - eminens) e o posterior (excesso - excessum).

A classificação de eminente tem como requisito que “tudo que é mais perfeito e mais 

nobre segundo a essência, é, assim, anterior”.

• A ordem de dependência:

Esta deixa de lado a ordem da eminência e também subdivide-se em dependente 

entendido como “efeito e aquilo de que algo depende é sua causa”, ou “efeito mais remoto 

de alguma causa e aquilo de que depende é efeito mais próximo desta mesma causa”.

3 A Bíblia de Jerusalém, 2002. P. 106.

*Aristóteles não usa o termo moderno Metafísica, dizia a “filosofia primeira”.

Há uma dependência necessária e essencial entre um anterior e um posterior, onde o 

primeiro tem uma causa, e por isso cause o posterior.

• Esta terceira consta do segundo membro da divisão anterior, sendo assim, 

• Esta quarta divisão retoma o primeiro ponto, o eminente e o excesso. 

Como anteriores ficam as causas: final, eficiente, material e formal. E como seus opostos 

ficam posteriores os efeitos: finalizado, efetivado, materializado e formalizado.

Segundo DALPIAN, L.; OLIVEIRA I. C.. O Capítulo I do Tractatus De Primo 

Principio de Duns Scotus: Introdução, Estrutura e Tradução pensamento se organiza da 

seguinte maneira:

III - CONCLUSÃO


• Teologia natural e ciência

A teologia natural tem sofrido muitos ataques por ser mal compreendida, Karl Barth 

argumentava que a teologia natural era uma iniciativa perigosa, porque se tentássemos 

conhecer o Deus vivo a partir de deduções feitas na natureza, a probabilidade de terminar 

com um Deus feito pela nossa própria imagem era muito grande. Porém não podemos 

nos esquecer do contexto em que Barth estava inserido, estava se levantando contra os 

liberas do século XIX.

 Para os Críticos o homem está caído e não pode compreender certas coisas, a 

revelação de Deus na criação é inacessível para pecadores. Mas o que dizer do texto:

“Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça 

dos homens, que detêm a verdade em injustiça. Porquanto o que de Deus se 

pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as 

suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, 

como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que 

estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis” (Rm 1:18-20 - ACF)

A teologia Natural é a resposta humana a revelação geral, uma forma de entender 

a revelação que Deus deu de si na criação, Revelação Geral é o que Deus faz; Teologia 

natural é o que fazemos com essa revelação. Ela é basicamente aquele conhecimento 

que todo o humano tem desde o início da criação, e isso é a base para a culpa universal e 

ninguém pode declarar ignorância como desculpa. 

E por tudo isso, é que temos grandes motivos, como igreja, de estudar as obras 

teológicas. A Fim de entender que os pensamentos do homem, história da igreja, as 

crises dos mesmos e as discussões, além de serem perenes, são também repetidas 

ao longo de nossos dias. Não há nada de tão novo, nada que não tenha acontecido 

anteriormente em algum momento da história. 

IV - REFERÊNCIAS


• FREITAS, Manuel Barbosa da Costa. O Ser e os Seres. Itinerários Filosóficos, 2 

vols., Editorial Verbo, Lisboa, 2004 (1oVol., pp. 232-238). 

• SPROUL, R. C. Defendendo sua Fé: uma introdução à apologética, Ed 3, CPAD. 

Rio de Janeiro, 2012

• Revista Filosófica de Coimbra – no 36 (2009)

• Traduções, João Duns Scotus: tractatos do primo princípio. Veritas, Porto Alegre, 

V. 53, cap I e II, jul/set. 2008.

• http://pt.wikipedia.org/wiki/Teologia_natural

• HTTP://sites.unifra.br/thaumazein

• http://pt.wikipedia.org/wiki/Metafísica

________________________________________________________________________

1* A Teologia Natural é uma parte da filosofia da religião que lida com as tentativas de se provar a existência 

de Deus e outros atributos divinos puramente filosóficos, isto é, sem recurso a quaisquer revelações 

especiais ou sobrenaturais. http://pt.wikipedia.org/wiki/Teologia_natural

2* A Metafísica (do grego antigo μετα [metà] = depois de, além de; e Φυσις [physis] = natureza ou física) é 

uma das disciplinas fundamentais da filosofia. Os sistemas metafísicos, em sua forma clássica, tratam de 

problemas centrais da filosofia teórica: são tentativas de descrever os fundamentos, as condições, as leis, a 

estrutura básica, as causas ou princípios, bem como o sentido e a finalidade da realidade como um todo ou 

dos seres em geral. http://pt.wikipedia.org/wiki/Metafísica

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagens populares