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sexta-feira, 15 de agosto de 2014

JONAS E EU

Jonas e Eu

Nubia Nogueira Cesari Aguila

O Chamado
O chamado é a força motriz. A razão do homem está em viver por algo. O que importa é encontrar um propósito, saber aquilo que Deus realmente quer que eu faça. Responder o chamado do Criador é “o porquê afinal da vida”.
Segundo Guiness, ao descobrir o chamado, o indivíduo é capacitado a descobrir o que ele realmente é, e libertar-se daquilo que não era. E ele afirma que, ao aceitar tal chamado, Deus se torna o farol seguro adiante dele e também um fogo abrasador em seu interior. Por esta razão, o chamado é a motivação mais profunda da experiência humana. E a minha experiência começou no dia oito de maio de 1984, quando entreguei a minha vida para Jesus e comecei um relacionamento com meu Salvador.

O povo da deficiência invisível
Fui atraída por um povo com a deficiência invisível. Uma comunidade que “aparentemente não tinha nada a compartilhar comigo”, tinha uma língua diferente, aparentemente nervoso e estranho, mas no meu âmago sentia que este era o meu chamado. Então comecei a estudar a língua, a identidade deste povo e foram muitas as descobertas.
A língua brasileira de sinais – Libras possui parâmetros que servem ao estudo da aquisição da linguagem pelo deficiente auditivo que não são os mesmos da pessoa ouvinte. A criança surda, mesmo não sendo exposta a nenhum tipo de linguagem sinalizada, desenvolve espontaneamente um sistema de gesticulação manual.

Quadros (2004) descreve que a Libras como toda língua de sinais é uma modalidade gestual-visual, pois utiliza movimentos gestuais e expressões faciais que são percebidas pela visão. Os sinais são formados a partir de combinações do movimento das mãos com um determinado formato em um determinado lugar, sendo este lugar uma parte do seu corpo ou um espaço em frente ao corpo. Estas articulações das mãos, que podem ser comparadas aos fonemas e às vezes aos morfemas, são chamadas de parâmetros, portanto, a Libras possuem os seguintes parâmetros: configuração das mãos (CL), ponto de articulação (PA), movimento (M), orientação das mãos (Or), expressão facial (EF) e / ou corporal (EC). A combinação destes parâmetros tem-se o sinal. “A língua de sinais brasileira, assim como as outras línguas de sinais, é basicamente produzida pelas mãos, embora movimentos do corpo e da face também desempenhem funções. Seus principais parâmetros fonológicos são locação, movimento e configuração de mão” (QUADROS, 2004, p.51).
Uma língua carregada de herança histórica e rica, com uma beleza cinestésica incomparável. Com ela pode-se transmitir, criar e recriar o que quiser poesia, romance, filosofia, etc.

A Libras constitui idioma com estrutura própria e, portanto, são codificadas de uma “visão de mundo“ específica. Apresenta uma gramática de especificidades em todos os níveis, fonológico, sintático, semântico e pragmático, embora, em suas estruturas subjacentes utilizem-se de princípios gerais similares ao da língua oral. Por possuir um caráter diferente do que qualquer língua falada ou escrita, não é possível transliterar uma língua falada para a língua de sinais (palavra por palavra ou frase por frase), pois sua estrutura é essencialmente diferente.

Souza (2007) diz que 95% das crianças surdas nascem em famílias ouvintes. A notícia da deficiência obriga a família a rever seus sonhos e expectativas em relação à criança. Esse processo de aceitação da surdez significa uma insegurança, pois os pais estavam “preparados” para receber uma criança ouvinte, mas quando deparam com o nascimento de uma criança surda eles pensam que a surdez impede a criança de se comunicar, portanto, tentam fazer essa tarefa, apesar de não estarem preparados para tal. A comunicação é uma das mais importantes necessidades da vida humana e a escola aparece como elemento facilitador no enfrentamento das dificuldades de comunicação, pois é nela que as famílias têm acesso à aprendizagem da Libras. A língua de sinais é o caminho por meio do qual a criança surda pode desenvolver suas necessidades linguísticas, pois a surdez leva a criança a um isolamento dentro da própria família. Essa falta de comunicação no convívio familiar priva a pessoa com esta deficiência de situações de diálogo, o que o leva a expressar comportamentos tidos como agressivos ou inadequados. A criança surda deve ter o contato com a língua de sinais o mais cedo possível.

O profetismo Israelita
Os profetas são os anunciadores da Palavra de Deus, eles sabem ler a história porque foram chamados pelo Deus da história. Profeta é o homem que vê para onde a história vai. A missão de um profeta é convocar as pessoas a viverem bem, da forma certa, a serem verdadeiramente humanos numa relação íntima com Deus. “Eles davam testemunho, transmitiam conhecimento, explicavam sua mensagem. Em sua caminhada o profeta passa a não somente receber o conhecimento dos planos de Deus sobre a história, mas lhe são imputados, como por transferência; certos estados afetivos do coração do próprio Deus: a cólera, o amor, a compaixão, a repugnância, etc. Eles foram vítimas acirradas de zombarias, rejeição, injustiças. Enfrentaram tempos de derrotismo, momentos de fadigas, desesperos. Tudo isso porque não se modelavam e nem conformavam com o mal vigente”(Texto: Renata Arruda).
Jonas era um profeta independente, pois exercia sua vocação longe do profissionalismo, e sim, por causa de um chamado especial que desloca de seus afazeres.
Como Jonas, tive que aprender que o relacionamento especial de Deus com o seu povo não é exclusivista, mas inclusivista. Como que um povo que não ouve poderia “ouvir” a voz daquele que o criou? A resposta é simples, utilizando as mãos daqueles que se dispõe a se entregar Aquele que tudo pode fazer.

Análise do livro de Jonas
O nome Jonas significa “poma”. Nasceu em Gate-Hefer, perto de Nazaré. Portanto, Jonas era galileu. Profetizou no Reino do Norte durante a época de Jeroboão II, rei de Israel, no séc. VIII a. C. Predisse a expansão territorial conseguida por esse soberano(IIRs 14:25-27).
O livro de Jonas começa com a ordem de Javé a Jonas para profetizar contra a perversa Nínive, capital do império Assírio que naquele tempo, seus exércitos ameaçavam Israel. Em vez de ir para o leste, rumo à Assíria, Jonas embarcou num navio para Társis – em direção oposta para “longe da presença do Senhor”, pois sabia que Deus era clemente e misericordioso, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e que se arrepende do mal.
Javé extraiu a moral contrastando o interesse egoísta de Jonas pela planta e a compaixão divina por suas criaturas em Nínive, “mais de cento e vinte mil pessoas, que não sabiam discernir entre a mão direita e a mão esquerda, e também muitos animais” (Jn 4:11).
Jonas está determinado a fugir da ordem de Deus, mas Deus está infinitamente mais determinado a fazê-lo obedecer.
A negação da missão principal de Jonas provoca tempestades, turbilhões, vazios existenciais. Jonas é, pois, um livro que nos faz pensar e sonhar. Pensar e, talvez, até mesmo chorar pelo que somos, e então, sonhar, com o que poderemos vir a ser.
Segundo Soraya Cavalcanti, no livro “Mergulho no Ser”, Jonas é cada um de nós com nossas dificuldades e ambiguidades, com aquelas contradições que frequentemente colocam em xeque o que falamos.
Abraham Moslow, diz que ser atingido pelo complexo de Jonas, é experimentar o medo da própria grandeza. Com isso compreendemos que não é suficiente reconhecer o que há de grande, de bom, de digno em nós, mas o que Deus quer manifestar por meio dessa possível grandeza. Essa possibilidade de se deixar usar por Deus, muitas vezes nos assusta e nos faz fugir.

A fuga: a fuga para Társis, símbolo do lugar em que me escondo de mim mesmo e de Deus! O lugar do descompromisso, o lugar de nos escondermos dos perigos que rondam o amor.

O medo: Jonas é um homem de muitos medos. Pode-se considerar que o livro de Jonas é o livro da Travessia dos medos. Sua leitura leva-nos até as Palavras do Apóstolo João: “O perfeito amor lança fora todo medo” (IJo 4:18). O contrário do amor, não é ódio, e sim medo de amar!

No navio: Jonas é o símbolo do homem que quer permanecer deitado, adormecido em si mesmo. Durante a tempestade ele dormia um sono profundo, parecia um ser atemporal, impenetrável.
Agostinho diz que é no encontro comigo mesmo, que percebo a minha necessidade do outro, E quando me encontro com o outro, amplio a visão de mim mesmo.
Toda missão tem um preço. Jonas foge do compromisso, da entrega e do esforço.

Lançado no mar: A oração de Jonas. Nesse momento de intimidade, sua maior necessidade é reconstruir sua identidade a partir da imagem de Deus. O fio de vida para ele naquele lugar escuro, úmido e apertado, o leva a ser íntimo de Deus (Jn 2:7).
Seu relacionamento com Deus é superficial, ele não consegue entender os propósitos do coração de Deus. Através do amor, misericórdia e insistência, Deus quebra os medos e preconceitos que atormentavam Jonas.

O desfecho: Deus pediu duas coisas ao povo de Nínive – que orassem a Ele e se desviasse de suas maldades. Os ninivitas creram na pregação de Jonas, eles se arrependeram e se humilharam diante de Deus. Por causa do arrependimento genuíno, Deus reteve sua mão de julgamento até um tempo posterior.
Os ninivitas creram na mensagem pregada por Jonas, arrependeram-se da sua impiedade e humilharam-se diante de Deus! Por causa do arrependimento genuíno deles, Deus reteve sua mão de julgamento até um tem tempo posterior.
O mesmo Deus tem feito pela comunidade surda através da minha vida há vinte e nove anos (19 anos na igreja da minha conversão e há 10 anos em Lagoinha). Os tempos são difíceis, a vontade desistir sempre bate à porta, mas toda vez que penso em desistir lembro-me de uma palavra que o Pr. Gustavo Bessa disse uma vez que o “nosso chamado é irrevogável”. Também me lembro de uma frase que a professora Cleonice Russo disse na sala “Ministério é uma chamada incrível a uma pessoa inadequada para fazer uma obra impossível por um tempo determinado”. Muitas vezes (quase sempre) me sinto inadequada, não capacitada. Como Jonas dá vontade de tomar uma direção contrária, bem longe do local de onde tenho que desenvolver meu chamado. Mas o maior problema não está na comunidade surda, mas infelizmente dentro do próprio ministério, dentro da própria igreja. Pessoas que lutam por poder, de querer se colocar em evidência, fazendo assim do Ministério um campo de batalha.
A Igreja da Lagoinha tem sido benção, uma Igreja com mais de 200 ministérios trabalhando na diversidade, mas ela ainda não tem sido uma igreja inclusiva, mas sim uma Igreja que tem integrado várias pessoas com deficiências. A Igreja é leiga no assunto inclusão. Mas ela está caminhando. A inclusão visa numa adaptação da Igreja, estrutura, povo de Deus se adaptar para receber de braços abertos as pessoas com deficiência.
O alvo de Lagoinha é 10% da cidade de Belo Horizonte até 2020, e temos que lembrar que não só 10%, mas toda a cidade são nossas ovelhas. Hoje no Brasil, segundo o censo do IBGE (2010) 9,7 milhões de pessoas tem algum tipo de deficiência auditiva e sei que cabe a nós, a mim, esclarecer à minha liderança sobre essa necessidade. Planejar, buscar estratégias e servir.

Referência:

DE QUADROS, Ronice Muller; KARNOPP, Lodenir Becker. Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004.

DE SOUZA, Regina Maria (org.) et al. Educação de surdos: pontos e contrapontos. São Paulo: Summus, 2007.

SEUBERT, Augusto. Como entender a mensagem dos profetas: introdução pastoral aos profetas. São Paulo: Edições Paulinas, 1992.

Texto da Renata Arruda “O chamado”.

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