Levítico
O livro que fala da santidade de Deus
Cleonice Russo
O Livro de Levítico é o terceiro livro de Moisés e está no centro da Tora , ou seja o culto
está no centro da vida de Israel. O livro começa com a expressão “ê chamo a” e o tema
fundamental é a santidade de Deus. A grande questão é como Israel podia se relacionar com
o Deus santo dentro da aliança que Israel tinha com Deus.
A primeira parte vai tratar da questão da regulamentação dos sacrifícios.
O livro parece em um primeiro momento sem atrativos. Mas não se pode entender o NT e o
sentido da obra de Cristo sem se dar a devida atenção ao livro de Levítico.
E importante dar a atenção ao fato que o livro começa com uma seqüência. A palavra
Ê. É uma continuação do Êxodo. É como se fosse um manual de instrução cúltica. Ele
regulamentava e orientava como se deveria entrar em comunhão com Deus. Foi escrito
para o povo, não para o sacerdote. Isso traz uma idéia que o povo conhecia a forma de se
realizar o culto e podia por assim dizer “cobrar” dos sacerdotes uma fiel representação
da congregação. Apesar do sacerdote representar o povo, o povo participava de forma
direta desse processo, não era uma participação alienada. Aqui eles percebiam o quanto
era sério o distanciamento de Deus, o sacrifício tinha que ser bem feito, isso mostrava
desde pequenininho uma criança via que o salário do pecado era a morte. A morte de um
animal que estava próximo dele estava relacionado com o pecado. A seriedade do que
estava acontecendo era representado de forma pública, muito bem estruturada, marcando a
separação do homem de Deus por causa do pecado. Eles eram uma sociedade agropecuária
então ofereciam o que fazia parte do seu mundo, como por exemplo hoje oferecemos
dinheiro.Eles sabiam o que o sacerdote estava fazendo lá. Eles entendiam o que acontecia.
E inclusive eles tinham que participar individualmente do sacrifício. Colocando suas mãos
sobre o animal. Levítico fala da necessidade da vida santa, da pureza ritual e cerimonial,
que comunicava o que é sagrado e o que não é. Fala da gravidade do pecado e de como ele
deveria ser expiado. Muitas leis cerimoniais que falavam da vida íntima, muitas leis sociais
que falam como devemos nos portar no culto a Deus.
O texto começa dizendo que “da tenda do encontro o Senhor chama a Moisés e lhe
ordenou...”
Havia um tabernáculo com um pátio maior onde estava o altar principal e a bacia de
bronze e na parte interior tínhamos a tenda da congregação ou tenda do encontro de onde
Deus fala a Moisés.
Havia o gado maior (rebanho bovino) e o gado menor (gado miúdo, rebanho caprino e
ovino) e havia uma regulamentação especial para o holocausto (que significa aquilo que
sobe, a fumaça que sobe do sacrifício).
O holocausto era o tipo de oferta, do sacrifício quando o gado era queimado perante Deus
no sacrifício, no altar. Era completamente queimado, tinha que ser um animal macho, sem
defeito, que deveria ser escolhido de acordo com as posses do ofertante. O sentido era fazer
propiciação pelo ofertante. Os holocaustos ocupam o capítulo primeiro inteiro. A idéia
era de dedicação total a Deus. Havia uma idéia aqui que a pessoa precisava manifestar de
maneira concreta o que seria apresentado a Deus. Por meio da demonstração concreta o
indivíduo que vivia da atividade da pecuária entendia como a questão do pecado deveria ser
tratado de forma séria. O fermento e o mel não tem nenhum mal em si. O mel e o fermento
mas a idéia aí é a de estragar, nesse sentido é de morte. E o sal faz durar, sentido de vida,
de permanecer, de preservar, de ir adiante. O sal da aliança. Sentido de continuidade,
permanência.
Já no segundo capítulo vemos uma outra oferta que fazia parte do sistema sacrificial. E a
oferta de cereal. Ela era trazida a partir do fruto da terra, provavelmente o próprio trigo.
Uma porção cerimonial era queimada perante o Senhor. As demais porções eram comidas
pelo sacerdote. E era feito uma espécie de bolo sem fermento no qual era incluído o sal. A
idéia era de gratidão pelos primeiros frutos da terra. Era uma oferta dedicada especialmente
ao Senhor. Essas ofertas eram uma maneira concreta de reconhecer o que Deus havia feito.
O que é cultuar. Cultuar a Deus pressupõe que Deus está acima, Ele é superior. O que
devemos trazer para ele deve ser superior. O segundo é o distanciamento. Deus está acima,
Ele é superior. Qual é seu espírito, sua atitude,
A oferta de comunhão era chamada de oferta de paz, pacífica, e a oferta pelo pecado.
Essa oferta era voluntária e aceitava-se pequenos defeitos. Apenas a gordura era
queimada. As demais porções eram repartidas em uma refeição de comunhão entre os
sacerdotes e o ofertante. Ela poderia ser feita por uma benção inesperada, por um voto
cumprido e em ação de graças. Ela era fruto da gratidão e o foco mais importante nesse
sacrifício. Mostrava essa relação harmônica entre o ofertante e o Senhor. Já a oferta
pelo pecado tinha um foco diferente. Ela dependia de quem a apresentava. Ela quando
era oferecida em favor do sacerdote, era um novilho que era dedicado, se fosse um rei a
oferta era um bode. Se fosse um indivíduo do povo era uma cabra que era apresentada.
Essa oferta pelo pecado se aplicava em uma situação que implicava numa necessidade
de purificação. Era a idéia do reconhecimento que o sujeito era pecador por natureza. A
gordura era queimada e as demais porções eram comidas pelo sacerdote. O quinto tipo de
oferta era o carneiro sem defeito oferecido como sacrifício pela culpa, ela envolvia uma
situação de culpa objetiva, tinha um fato específico em vista. A oferta pelo pecado era geral
(reconhecia o estado de pecador do ser humano) e a oferta pela culpa envolvia o fato da
pessoa ter pecado especificamente, mesmo que a pessoa tivesse pecado sem intenção. A
oferta pela culpa era comida pelo sacerdote e a gordura era queimada perante o Senhor. O
foco era o distanciamento entre Deus e o homem e o caminho para o homem se aproximar
do Senhor.
A idéia de não comer sangue tem a ver com a idéia do sangue ser o símbolo máximo da
vida. E por um raciocínio de pureza, de separar aquilo que estava ligado ao sagrado. A idéia
não é que o sangue tem um poder espiritual. A questão da alma está no sangue não significa
que se você se cortar e perder um pouco de sangue você perdeu um pouco de sua alma.
Não é isso, tem mais a ver com a idéia da vida, tem o sentido que aquilo que é vivo não
vive sem sangue. A idéia em Atos 15,o sangue foi proibido de ser comido no NT mais com
o sentido de mistura com os pagãos. No AT tem significa ritual e no NT não. A gordura
foi proibida por que foi considerada uma coisa especial. A idéia do Mundo antigo era
que o rico era o gordo. O que tinha uma vida privilegiada. Os reis, os ricos, eram melhor
alimentados e eram gordos. Os que trabalhavam muito eram em geral muito magros.
A IDÉIA da diferença no que diz respeito ao pecado pela culpa, ERA a idéia da diferença,
sensibilidade de Deus falando para a pessoa de acordo com sua possibilidade real e
também a idéia de quanto mais conhecimento mais responsabilidade, uma era a oferta do
rei (sentido de maior autoridade).
O sangue espalhado pelo altar traz a idéia da contaminação do pecado (o pecado a tudo
contamina). A idéia de purificação plena, completa, sangue espalhado por toda parte para
vislumbrar de forma concreta.
A idéia do sem querer não muda a realidade do fato que o pecado é pecado. A realidade do
pecado não é psicológica. Muitos quando estão fazendo algo errado buscam um conselheiro
que o fazem sentir bem consigo mesmo. Mas a realidade do capitulo 5: é que o pecado
tem realidade objetiva. O pecado não é se sentir mal. Muitos fazem barbaridade e não se
sentem mal. O pecado é pecado porque é uma realidade executada contra Deus e contra sua
vontade. Se eu pisar no acelerador ao invés do freio, o fato de fazer isso sem querer não
muda a realidade do fato que a pessoa vai ser atropelada.
A santidade nos faz ter uma consciência maior da realidade do pecado.
O que importa é restaurar a comunhão com Deus.
Todo o ritual do livro de Levítico enfoca a realidade da prioridade de Deus e da relação
do homem com Deus. Não é possível prosseguir adiante na vida sem uma restauração
profunda e absoluta com Deus.
Dedicação,submissão – holocausto
Gratidão-oferta de cereal
Ação de graças – celebração da paz – oferta de comunhão
Restaurar uma situação prejudicada pelo pecado – oferta de culpa
O papel do sacerdote
Levítico de 6 a 10
No início de Levítico encontramos os cinco sacrifícios apresentados ao Senhor no culto do
AT. No capítulo 6 os assuntos são retomados, repitidos. Mas desta vez o enfoque é um
pouco diferente. Aqui aparece o papel do sacerdote. Como Arão e seus filhos devem lidar
com a regulamentação para cada uma das ofertas. Do capítulo 8 a 10 fala mais
especificamente de Arão e seus filhos, sua consagração, o exercício de seu ofício sacerdotal
e a questão do que é de fato o sacerdote é então ressaltada. O sacerdote é uma figura que
aparece inicialmente no livro de Êxodo e tem a ver com a intermediação entre Deus e o
homem. O sacerdote apresenta o homem a Deus, já o profeta apresenta Deus ao homem. O
sacerdote é a figura desse intermediário. Jesus é nosso sumo sacerdote. Ele estabeleceu a
intermediação entre o Pai e o homem. A partir daí aprendemos a idéia do Novo Testamento
que Cristo é nosso intermediador. O sumo sacerdote era responsável pelo Tabernáculo e
pelas ofertas ministradas diariamente. Ele tinha uma espécie de uma vestimenta especial,
ele tinha sobre si derramado o óleo da unção. O manto sacerdotal tinha sobre si o peitoral
com as pedras que lembravam as doze tribos de Israel, tinha um turbante com uma espécie
de coroa com seus adereços. A importância do sacerdote mostrava que ele estava lidando
com as coisas de Deus com o sagrado. Sua função era trabalhar em favor da aproximação
de Deus e do ser humano. O livro de Levítico não fala apenas da consagração de Arão e
seus filhos e do início de seu ministério, ministério, aliás, muito abençoado por Deus como
vemos da manifestação da glória de Deus que levou o povo a gritar de alegria e a prostrar-
se em adoração. O que nos surpreende neste contexto de glória é que no capítulo 10 vemos
um evento que chama nossa atenção. Nadabe e Abiu trouxeram fogo profano diante do
Senhor e foram mortos pelo Senhor. Deus declara que se mostrará santo dos que dele se
aproximam e se mostrará santo. A surpresa é que eles trazem um fogo não permitido e são
mortos na hora. Depois Moisés chama alguns integrantes da família de Arão e ordena que
retire os parentes mortos. Moisés disse também que os sacerdotes não poderiam tomar
vinho antes de ministrar. Eles deveriam fazer distinção entre o santo e o profano. A relação
deles era complicada. Eles corriam o risco de se acostumarem com a liturgia e não
diferenciarem a santidade da presença de Deus. O texto nos mostra o perigo. Com fogo
santo não se brinca. Os outros filhos de Arão também mostraram uma dificuldade de
compreender a santidade de Deus. O conhecimento de Deus deve nos trazer uma atitude de
profundo temor e respeito.
Existe uma distância entre Deus e o homem. O pecado prejudicou nossa relação de
comunhão com Deus.
Hoje temos acesso livre diante de Deus por causa de Jesus. Mas não devemos permitir que
nosso coração perca o sentimento de profundo temor pela santidade de Deus.
Levítico 11 – fala de pureza e santidade. O povo que servia a Deus deveria ter uma vida
separada, o Senhor trouxe então regras e leis ligadas ao que eles comiam. O fundamental
era mostrar a separação com tudo o que estava relacionado com a morte. Animais que
comiam animais mortos eram proibidos, animais que se arrastavam pelo chão, e o chão era
o espaço onde estavam os mortos, eram proibidos. A ênfase era separar o puro do impuro,
separando dos pagãos.
Os judeus religiosos, conservadores, os jassidins entendem que devem observar
literalmente essas leis. Eles tem até um rabino que observa o abate dos animais, etc. Do
ponto de vista religioso e cerimonial, Jesus considerou puros todos os alimentos.
Levítico 12 a 15
A questão no texto com respeito a maternidade é que há uma diferença, um distanciamento
entre Deus e o homem, isso em virtude da sua condição de ser criatura, afetado pelo
pecado. O mal atingiu a tudo no universo, inclusive as coisas boas e abençoadas por Deus,
para que isso ficasse bem claro havia sacrifícios e ofertas para cada ocasião. A idéia é que
aquilo que era para ser vida se torna morte. Há um líquido vital que se perde. Ele é símbolo
de vida. Esse sacrifício é para marcar, para mostrar a referencia clara dessa separação, da
diferença. A purificação envolve a pessoa que se tornou impura pelo fluxo.
A diferença entre o homem e a mulher não tem a ver com o machismo, a purificação
pela menina durava o dobro do que a do menino. Vivia-se numa sociedade na qual a vida
dependia da força física e a força física passava pelo homem que sustentava a família.
As mulheres casam novas, tem filhos o tempo todo, para que a vida possa prosseguir o
homem tem que sair de casa, caçar, plantar. A razão porque a lei diz isso é difícil de saber,
ela provavelmente refletia a sociedade da época. Exemplo as leis que dizem respeito aos
escravos, não favorece a escravidão apenas reflete o tipo de sociedade.
Não há como estabelecer uma relação que uma pessoa que tinha um tipo de contaminação
tinha cometido um pecado específico. Há sim um reflexo que o pecado atingiu a sociedade.
Há sim a idéia de contaminação, mas isso não era em virtude de um pecado específico.
Não são textos normativos. Não podemos entender esse texto como texto para ser praticado
na igreja hoje. A revelação bíblica é progressiva. Essas leis cerimoniais são abolidas
em Cristo. Elas apontam para uma realidade. Elas são sombras. Tinham uma função
pedagógica que já foram concretizadas. Nesse caso os fatos eram descritivos, narrativos,
mas não normativos.
A principal lição é que o Deus de santidade é o Deus da vida. Tudo o que lembrava a
morte, ou trazia o perigo de contaminação e conseqüentemente de morte estava afastado
do Deus da Bíblia. Isso é significativo porque vivemos em uma época ameaçada pelo signo
da morte, uma sociedade marcada pelo aborto, pelo crime, nunca se matou tanto como no
último século. A violência e a morte têm tomado conta das salas de cinema de vida de tanta
gente. O Deus da Bíblia é o Deus da vida. Ele considera o caminho de impureza e de morte
deve ser distanciado.
Levitico 13 e 14
Era muito complicado ficar doente no mundo antigo. A preocupação dos capítulos 11 a 15
de Levítico era a purificação cerimonial. As impurezas ligadas ao corpo humano tornavam
o homem impuro para cultuar, para se aproximar de Deus. A fragilidade humana era
exposta diante da santidade de Deus.
A questão da lepra diz respeito às mais diversas doenças da pele. A idéia do texto não é
médica embora suas técnicas sejam usadas na medicina hoje, a separação, a quarentena.
As únicas inferências de cura dizem respeito a ação de Deus, como era o caso de Naamã
no tempo de Eliseu. Não temos informação de alguma técnica propriamente terapêutica. A
idéia de separação diz respeito ao indivíduo diante da sociedade. É proteger a sociedade.
Como separamos uma pessoa com suspeita de doença infecto-contagiosa. O foco era a
relação da santidade. O isolamento era um mal menor.
Os lugares eram definidos por sua santidade. Fora do acampamento não existe nada de
santidade. Há uma espécie de ensinamento didático de santidade. Esse ambiente mostrava
como era o relacionamento de Deus com o povo. Era uma espécie de pedagogia concreta.
Quando Jesus aparece e começa a tocar o que não pode ser tocado. Cristo mostra para nós
que Deus está conosco, no seu poder de restauração plena, muito extraordinária. Após
lermos Levítico, ao lermos o NT as coisas vão ficar muito mais claras, Jesus vence todas
as barreiras que nos separam de Deus. Todas as barreiras são quebradas. Tudo o que nos
separa de Deus e nos separa uns dos outros.
Levítico 16 – o ritual ligado a expiação esse mesmo assunto é discutido no capítulo 23 e
também é mencionado em Hebreus. A ordem dos acontecimentos era o seguinte. O sumo
sacerdote ia até a bacia, ele tirava suas vestes comuns, lavava-se e entrava no lugar santo
e vestia as roupas especiais ligadas ao dia de expiação. Vestia a túnica sagrada de linho,
o calção de linho, o cinto de linho, o turbante de linho, ele então ia ao altar do holocausto
e realizava um sacrifício por si mesmo pelo povo, depois disto ele entrava no lugar
santíssimo no lugar da arca com parte do sangue, com incenso, com brasas vivas no altar
do holocausto, o incenso era colocado sobre o fogo e a fumaça cobria a tampa para que ele
não morresse. Em seguida ele aspergia parte do sangue do novilho sobre a tampa da arca
e diante dela, aí ele saiu e lançava sortes para ver qual bode seria sacrificado e qual seria
enviado para o deserto. Diante do altar do holocausto ele sacrificava esse bode sorteado
como oferta pelo povo e voltava para o lugar santíssimo e aspergia o sangue do bode diante
a tampa da arca e sobre ela. E aí saia do lugar santíssimo com o sangue do novilho e do
bode e aspergia esse sangue sobre o altar do holocausto e colocava a mão sobre o bode e
simboliza o pecado do povo e mandava para o deserto. O homem que levava o bode tinha
que se lavar antes de entrar no acampamento. Então o sumo sacerdote se despia das suas
roupas e se lavava e vinha para o altar e oferecia um carneiro para si e outro pelo povo. E
banhava-se e lavava suas roupas e voltava para o povo. O dia mostrava a idéia da remoção
do pecado do povo. Esse dia, o "yom kippur", acontece em outubro e é muito valorizado
pelos judeus até hoje. A palavra se humilhar tem o sentido de jejuar, por isso os judeus
fazem jejum. E um dia de humilhação e não pode haver trabalho nesse dia. A propiciação
será feita uma vez por ano.
A religião judaica não equivale a pratica do AT literalmente. Ela se baseia em Esdras. Os
judeus hoje se reúnem, fazem um jejum, um exame de consciência. Não se pratica todos os
detalhes de Levitico 16.
Há uma ligação desse bode emissário com Cristo que morreu fora da cidade, uma tipologia
perfeita é complicada. Há uma ligação entre eles e a obra de Cristo. Mas ainda falta luz
para uma definição definitiva. Há uma idéia sim de remoção do pecado e isso é o que Cristo
fez. O jejum aponta nossa fragilidade. E isso nos faz perceber melhor quem é o Senhor.
A SANTIDADE PARA COM DEUS SE TRADUZ NUMA ÉTICA QUE INTERFERE
NAS RELAÇÕES HUMANAS.
Levítico 17 a 19 mostra bem isso através dos mandamentos.
Reverenciar o idoso, amar o estrangeiro. O problema sério da sociedade é quando as
relações humanas se deterioram, quando o próximo torna-se inimigo, uma ameaça. O
idoso representa a base de onde eu vim. A prática de cortar o cabelo e se marcar pelos
mortos eram comuns entre os caldeus. A questão das roupas, das misturas, tem a ver com
o ambiente pagão e também de não ir além dos limites da natureza, de inventar além do
possível. A tatuagem em Levítico tinha um significado religioso, em homenagem a uma
divindade. Era uma forma de cultuar, reverencial o morto. O foco do texto é não permitir
que o fraco seja explorado. O morto está nas mãos de Deus. Quando não aceitamos isso,
não vamos conseguir e vamos entrar por um caminho perigoso.
Levítico 18 a 20 – Sexualidade
Nos últimos 50 anos a sexualidade tem sido um foco da sociedade. Uma nova moralidade
foi instaurada com muitos problemas difíceis de serem contornados. A sexualidade é
fundamental para a experiência humana contemplada na Bíblia, que estabelece limites
para seu exercício. A sexualidade sem limites torna-se motivo de deboche, desprezo, é
desvalorizada e provoca o aumento de maldade na terra.
Um dos fundamentos de qualquer civilização está relacionado com a maneira como
a sociedade pensa sua sexualidade. As sociedades antigas tinham uma visão mais de
conjunto e não individualista como hoje. A pessoa sem referencia sexual prejudica a
sociedade. A maioria dos crimes hediondos são praticados por pessoas com problemas
na sua sexualidade. As sociedades que se entregaram aos prazeres imediatos faliram e
sucumbiram. As orientações aqui tem validade em termos de proibições no NT também.
O contexto da sociedade antiga era favorecido em relação a sociedade atual que é
bombardeada com herotismo. A preservação na inocência ajuda a lidar com os vícios que
surgem na adolescência. A lei mais rígida e mais séria inibe as práticas erradas. Então não
é apenas a ação do Espírito Santo. O ambiente era menos problemático e as leis eram mais
eficazes. O Espírito Santo não elimina a realidade da natureza pecaminosa. Existe o sentir-
se mal com o pecado, ele se policia. Mas isso não muda a realidade que a força da carne vai
diminuir.
Ou temos a Deus como referência ou temos o ser humano como referencia. As religiões da
natureza, que não tem uma inspiração transcendental, eles via de regra tem a sexualidade
como um referencial religioso. O satanismo e a bruxaria tem a sexualidade como prática
ritual. Isso é um desvio do que Deus planejou para o ser humano. A sexualidade tem a
ver com experiência pessoal profunda. A relação com Deus tem a ver com seu rosto. A
experiência mais profunda e mais intensa da vida é experienciar o rosto de Deus. Sem
limites não dá.
Levítico 21 e 22 – pureza radical para os sacerdotes. Para o Deus especial toda a vida e
culto deveria demonstrar pureza radical.
A Bíblia tem um princípio muito claro, quem tem mais luz é mais exigido. Não há idéia de
impecabilidade. Ele era uma espécie de modelo para toda a congregação, por representar o
povo diante de Deus sua vida deve ser referencia. A pessoa que decide lançar todo o legado
fora está numa situação difícil.
Trate a Deus como Ele merece.
Levítico 23 a 25 –
O tempo de festa, os princípios de justiça, de igualdade e de fraternidade fazem parte dos
planos divinos.
O culto a Deus era demonstrado de forma concreta, objetiva. Isso era manifesto de modo
concreto e claro. Havia um tempo sagrado durante o ciclo anual no AT. O tempo de Deus
era um tempo muito alegre, de festa, de comemoração. A questão da blasfêmia durante
esses capítulos demonstra que durante o tempo de comemoração e festa há aqueles que
desprezam, menosprezam isso.
Há o princípio sabático nesse texto, no qual o ser humano reconhece a Deus de forma
especial e o ser humano reconhece sua finitude. O ano sabático, era um ano de repouso
para as terras e campo, uma atitude sábia que visava não esgotar a terra e demonstrava a
dependência de Deus e dentro desse enfoque havia o jubileu no quinquagézimo ano, os
escravos eram libertos, as terras devolvidas, as dívidas quitadas, isso impedia a pobreza
extrema, e esse mecanismo impedia o aumento exagerado de riqueza dos poderosos em
oposição à miséria crescente. Depois era mencionada a festa da páscoa que lembrava a
libertação do Egito. Na seqüência da páscoa que acontecia no mês de março/abril, nos
próximos sete dias temos a festa dos pães sem fermento com assembléias e ofertas
específicas, isso lembrava como o Senhor tirou os israelitas com pressa do Egito, após
acontecia a festa dos primeiros frutos, reconhecendo a generosidade e a benção de Deus na
terra, era apresentado um feixe, oferta movida ao Senhor e um cordeiro, logo após a festa
das semanas, festa da colheita e depois chamada de festa do pentecostes, ela demonstrava a
alegria e ação de graças a Deus pela colheita, com ofertas obrigatórias e voluntárias. E
interessante que é nessa festa que temos uma relação profunda com o Cristianismo por
causa da descida do Espírito Santo. Logo depois em outubro temos a festa das trombetas,
também chamada de festa do ano novo, o povo pedia o favor de Deus. Havia o toque das
trombetas e o sacrifício, logo após, nove dias depois havia o “Yom Kippur”, dia de
repouso, de expiação, a ideia geral era de purificação de todos do sacerdote e do lugar
santo. Cinco dias depois começava a festa Sucote, festa das cabanas, uma semana de
celebração pela colheita e lembrava que o povo havia vivido em cabanas, também se
oferecia sacrifícios. Havia também uma reunião solene que acontecia no final desse período
no último dia, um dia de convocação, de sacrifício que comemorava o fim dos ciclos das
festas. Essas festas mostravam Deus como Senhor do tempo. É importante mencionar que
mais tarde surgiram duas festas importantes, posteriores, uma é o Purim, que é o dia
especial de agradecer a Deus por livrar seu povo da destruição na Pérsia, acontece em
fevereiro/março e também a festa das luzes, João 10:22 que é a Hanuka que lembrava a
libertação no período dos Macabeus no ano 165 antes de Cristo. Isso mostrava de maneira
concreta que Deus é o Senhor do tempo e da história.
A sociedade de Israel ela era socialista no sentido positivo do termo quando pressupunha
que todos deviam ser contemplados pela benção de Deus e caminhava na direção de ter os
bens mais divididos pelas pessoas. As melhores idéias socialistas foram tiradas da Bíblia.
O problema do socialismo atual tirou Deus da jogada. Mas a base da ética é a confiança
no próprio Deus. A postura sábia não tira a iniciativa do indivíduo (o socialismo radical
retirou isso do indivíduo). Dentro da postura equilibrada o indivíduo tem o fruto do seu
trabalho pelo seu próprio esforço, valoriza Deus e a realidade de Deus e o direcionamento
divino e estabelece mecanismos que impedem que a sociedade seja dominada por homens
sem escrúpulos. Se o socialismo corta a raiz da ética e da igualdade humana ele se torna
tão predatório quanto o capitalismo e outros empreendimentos humanos. E infelizmente foi
isso que aconteceu ao longo da história.
É interessante que a agricultura de Israel foi aprendida com os povos pagãos. Havia o
perigo de a religiosidade pagã estar diretamente associada à agricultura. O que Israel fez foi
mudar a interpretação naturalista e pagã da agricultura quando se adorava a entidades pagãs
que supostamente garantiam uma boa colheita. No começo de março na ocasião da páscoa
acontecia a colheita da cevada e em abril e maio acontecia a colheita geral, a colheita do
trigo e a poda das videiras. Aqui acontecia a festa do pentecostes. A tradição judaica diz
que a lei foi entregue na ocasião do pentecostes. Logo em seguida chegavam as primeiras
uvas por volta de junho e julho. E por volta de julho e agosto acontecia a colheita das
uvas, figos e azeitonas. E a vindima entre agosto e setembro e quando chegava setembro
e outubro que acontecia o ano novo, o dia da expiação, festa das cabanas, o pessoal arava
a terra e em outubro novembro e plantavam os grãos que cresciam na primavera, e os
figos de inverno apareciam por volta de janeiro, fevereiro. E em fevereiro e março havia
a retirada do linho e as amêndoas floresciam e acontecia a festa do Purim. É interessante
observar que na própria Bíblia e na história as festas tiveram mudança de significado, basta
ver o Pentecostes que foi absorvido pelo cristianismo. O princípio destas festas era pegar
um contexto pagão e muda-lo e dedica-lo ao Senhor.
O relacionamento adequado com Deus é com o Deus que se manifesta na história e que é
Senhor do tempo. Por isso temos datas especiais para comemorar.
Levítico 26 e 27 obediência e responsabilidade
O capítulo 26 começa com advertência, não adore a imagens, Deus convoca o povo à
obediência, a ouvirem sua palavra e a atentarem para suas orientações. A aliança trazia
implícita a necessidade de obediência.
A obediência envolve um relacionamento que primeiramente é pessoal. Isso envolve o
reconhecimento devido de quem tem autoridade. Ela é fundamental para mostrar quem nós
somos, para acharmos nosso lugar no mundo, nossa relação perante Deus. Conhecer a Deus
em hebraico quer dizer, obedecer a ele.
Em parte a teologia da prosperidade é verdade, o problema que é em parte.
Deus quer um relacionamento conosco porque ele é um Deus pessoal. A santidade plena
diante de Deus existe através de Cristo que morreu por nós