GEOGRAFIA BÍBLICA
Climas da Palestina
Isa Coimbra
Geograficamente, a Palestina situa-se na faixa subtropical; seu clima,
portanto, é sui generis, com apenas duas estações: chuvosa com frio e seca
com calor.1 A Palestina é encontrada entre 31o e 33o e 25’, latitude norte. A
extensão territorial de Israel é mínima. Apesar do tamanho, existem três
climas distintos nesse país:
1. Montanhas. Israel é um país essencialmente montanhoso. O ponto mais
elevado é o Hebrom, com pouco mais de 1.000 m. Jerusalém ergue-se a
uma altitude máxima de 800 m. Nas montanhas, o clima é sempre fresco e
ventilado, exceto quando esporadicamente sopram ventos do sul ou do
ocidente, o que ocorre quase sempre no verão. Por exemplo, em Jerusalém,
no inverno, o termômetro desce a 6o positivos e algumas vezes a zero com
neve. As geadas são mais frequentes. No verão o termômetro oscila entre
14o e 29o.
4 Em Guia de Israel, o prof. Zev Vilnay fornece informações maravilhosas sobre
estradas modernas de Israel, incluindo distâncias, especialmente nas p. 454-477.
1 LEGENDRE, Adolphe Alphonse François. Le Pays Biblique. Paris: Bloud & Gay, 1928,
p. 186.
2. Litoral. Israel confina a ocidente com o mar Mediterrâneo. A brisa marinha é
constante, principalmente à noite. No inverno, em Gaza e em Jafa, a
temperatura baixa para 14o; algumas vezes, um pouco menos. No verão
sobe para 23o, e na maior intensidade do verão, até 34o. Em Haifa, Naharia
e outros lugares mais ao norte, o frio é rigoroso. Em Rosh-Nikrah, na linha
divisória com o Líbano, o inverno é insuportável, principalmente quando
coincide com uma quadra chuvosa.
3. Deserto. Quando o Jordão sai do mar da Galileia, corre a 200 m abaixo do
nível do mar Mediterrâneo; em Jericó a 300 m e, por último, quando entra
no mar Morto, está a 400 m. O Jordão corre de norte para sul entre duas
muralhas de montes. O vale desse rio não recebe ventos de nenhum lado.
Os raios de sol se concentram no vale, tornando seu clima insuportável.2
No inverno a temperatura chega a 25o e no verão varia entre 43o, 45o e até
50o.
Jericó é um lugar diferente e com um clima também diferente. Nunca
chove. Está a 300 m abaixo do nível do mar. É a cidade mais verde de
Israel; o clima é constante: de dia 32o; à noite, 28o.3
Pontos cardeais
Giovanni Schiaparelli afirma: “Os hebreus antigos divisavam em seus
horizontes somente quatro direções e consequentemente quatro ventos (Jr
49.36; Ez 37.9; Dn 8.8; Zc 6.5). Estas ‘direções’ dos antigos correspondem
aos nossos pontos cardeais”.4 Para designá-los, os hebreus tinham três
sistemas distintos:
1. O observador está de frente para o levante:
a)Quedem (leste) — na frente.
b)Akhos (oeste) — na retaguarda.
c) Semol (norte) — à esquerda.
d) Yamin (sul) — à direita.
2. Derivado das aparências ligadas ao movimento do sol:
a) Mizrakh (leste) — o nascer do sol.
b) Mibô Hassehemesh (oeste) — o pôr do sol.
c) Tsafon (norte) — região escura, trevas.
d) Darom (sul) — região iluminada.
3. Topograficamente, indicando a direção de acordo com as circunstâncias
locais que coincidem com ela:
a) Sul (neguev) — para designar uma região seca e árida.
b) Oeste (miyam = do mar; yammah = para o mar) — norte e leste não
aparecem na Bíblia, exceto em Gênesis 13.14.
c) Ventos — “A diferença de temperatura na superfície do globo e na
atmosfera é, como se sabe, a causa primeira da formação dos ventos”.5 Os
hebreus atribuíam propriedade especial a cada um dos ventos:
• Safon, Mezarrim (norte) — fresco, portador de geadas.
• Daron, Teman (sul) — traz calor.
• Qadim (leste) — vem do deserto e cresta a vegetação.
• O de oeste, procedente do mar, traz chuva.
Vejamos o que a Bíblia diz a respeito:
1. Vento oriental — portador de seca e crestamento (Gn 41.6; Êx 10.13; Os
13.15; Ez 17.10; 19.12).
2. Vento sul — trazia tempestade e calor (Is 21.1; Zc 9.14; Lc 12.55).6
3. Vento ocidental — portador de nuvens e chuvas (1Rs 18.44; Lc 12.54).
4. Vento norte — trazia frio e calmaria (Jó 37.9; Pv 25.23).7
Estações
Pelos textos de Gênesis 8.22; Isaías 18.6 e Zacarias 14.8, e talvez
outros, concluímos que em Israel e em todo o Oriente Médio havia
somente duas estações: verão e inverno.
O verão começava em abril e se estendia até setembro. O tempo era
bom e seco; era o tempo das colheitas, dos trabalhos agrícolas. Eram seis
meses de completa seca.8
O inverno iniciava em outubro e ia até março. Seis meses de chuva e
frio. Muito vento, principalmente do norte. Nesse período, havia geadas e
neve nos montes. Em Cantares 2.10-13 descreve-se o fim do inverno e a
chegada do verão, que no primeiro mês (abril) correspondia a uma curta
primavera.
Os rabinos dividiam o ano em seis estações de dois meses:
1. Colheita — de 16 abril a 15 junho.
2. Cálida — de 16 junho a 15 agosto.
3. Estio — de 16 agosto a 15 outubro.
4. Semeadura — de 16 outubro a 15 dezembro.
5. Inverno — de 16 dezembro a 15 fevereiro.
6. Fria — de 16 fevereiro a 15 abril.
Chuvas
Diferentemente do Egito, onde não chove, em Israel são abundantes as
chuvas na estação própria (Dt 11.14; 1Sm 12.17,18). As primeiras chuvas
caem em outubro; são aguaceiros fortes, geralmente com trovoadas. No
litoral, as chuvas são torrenciais e mais frequentes; nas montanhas, finas e
continuadas. No deserto dificilmente chove. Ao que parece, devia chover
no tempo em que Herodes, o Grande, construiu Massada, defronte ao mar
Morto, e os essênios habitavam nessa região, pois havia grandes
reservatórios d’água, geralmente procedente das montanhas.
Depois de outubro, as chuvas prosseguem em novembro, dezembro, até
março. As derradeiras, muito esparsas, caem em abril. A Bíblia menciona
a chuva “serôdia”, ou seja, a “chuva tardia” (Pv 16.15; Jr 3.3; 5.24; Os 6.3;
Jl 2.23; Am 7.1; Zc 10.1). Também registra “chuva de pedras” ou granizo
(Js 10.11). Por último, o Livro Santo menciona o famoso “orvalho”, que
era e ainda é abundante em Israel, e cai até mesmo nas regiões desertas.
Em Salmos 133.3 há referência ao Hermom. Em Cantares 5.2, o “esposo”
diz que sua cabeça estava cheia de orvalho e seus cabelos, das gotas da
noite. O velo de Gideão produziu um copo de orvalho e molhou a relva ao
redor (Jz 6.38-40). Vale a pena consultar Jó 29.19-22; Provérbios 3.20;
Isaías 18.4; Oseias 6.4; Ageu 1.10 e Zacarias 8.12.
As precipitações pluviais, na média de um ano, chegam a 1.090 mm.9
Calendário
“O cômputo dos meses do calendário das festas entre os hebreus foi
ajustado durante os séculos, e ainda o é, sobre as fases lunares; neles não
se encontra, como seria de esperar-se, nenhum vestígio do calendário
egípcio”
O princípio do mês — Rosh Khodesh — era determinado pela primeira
aparição da luz, no ocidente, durante o crepúsculo vespertino (1Sm 20.5-
18,24-27). Os nomes hebraicos dados aos meses expressam características
próprias, como por exemplo:
1. Abibe — mês das espigas (Êx 13.4; 23.15; Dt 16.1).
2. Zive — mês das flores (1Rs 6.1-37).
3. Etanim — mês da enchente dos rios (1Rs 8.2).
4. Bul — mês das chuvas (1Rs 6.38).
5. Nisã — março-abril
6. Jyyar — abril-maio
7. Tisri — setembro-outubro
8. Morshevã — outubro-novembro.
CALENDÁRIOS ANTIGOS
Numerais Nosso
calendário Hebraico Hebraico após a
Babilônia
Assíriobabilônico
1 Abril -Abibe Nisã Nisannu
2 Maio -Ivar Ivar Airu
3 Junho -Ivã Sivã Siwanu
4 Julho -Tamuz Tamuz Duzu
5 Agosto -Ab Ab Abu
6 Setembro -Elul Elul Ululu
7 Outubro -Tisri Tisri Tasritu
8 Novembro- Morshevã Morshevã Ará-Samna
9 Dezembro -Chislev Chislev Kisiliwu
10 Janeiro -Tebelt Tebelt Dhabitu
11 Fevereiro -Shebat Shebat Sabadhu
12 Março -Adar Adar Addaru
Divisão do dia e da noite
A palavra nykthémeron expressa uma tarde (o princípio do dia). Gênesis
usa a expressão “tarde e manhã” (Gn 1.5,8,13,19,23,31). A “tarde” vem
primeiro, como em Salmos 55.17.
Os hebreus dividiam o yom (= dia completo) em duas partes:
1. Dia — de 12 horas, dividido em quatro vigílias:
1.a 6 às 9 h
2.a 9 às 12 h
3.a 12 às 15 h
4.a 15 às 18 h
2. Noite: também 12 horas com quatro vigílias (Mc 6.48):
1.a 18 às 21 h
2.a 21 às 24 h
3.a 0 às 3 h
4.a 3 às 6 h
Leia os seguintes textos da Palavra de Deus sobre as vigílias:
Êxodo 14.24; Juízes 7.19; 1Samuel 11.11; Salmo 63.6; 90.4; 119.148;
Lamentações 2.19; Mateus 14.25;12 Marcos 6.48; Lucas 2.8; 12.38;
2Coríntios 6.5; 11.27.
O ano hebreu
O ano hebreu era “solar”. Assim como a lua servia para determinar os
meses, o sol determinava a duração e a sucessão dos anos. Não era como
entre os antigos egípcios nem como o dos muçulmanos, que atrelavam o
ano à determinação do curso das estações e da renovação dos trabalhos
agrícolas. Com base em Êxodo 23.16, sabemos que as grandes festas dos
judeus determinavam o princípio, o meio e o final do ano, que era
lunissolar. Provavelmente, o ano hebraico era de 360, e não de 336 dias.